COMO DEUS JULGA A NOSSA INDEPENDÊNCIA: O CHAMADO À RENDIÇÃO
Josimar Salum
28/6/2025
A inclinação do homem para a independência originou-se no jardim do Éden. Ali, Satanás, a antiga serpente, concentrou todo o seu poder de sedução sobre a decisão do homem de declarar sua autonomia em relação ao Criador. Ele semeou no coração humano a semente do orgulho, estimulando a desconfiança sobre a bondade e o governo de Deus:
“Porque Deus sabe que, no dia em que dele comerdes, se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal.”
(Gênesis 3:5 ARA)
Essa proposta ilusória de independência, apresentada como liberdade e sabedoria, transformou-se na raiz de todo pecado. O homem desejou ser “como Deus”, não percebendo que já fora criado à imagem e semelhança do Senhor (Gênesis 1:26–27), e que não havia necessidade alguma de romper com Ele para experimentar plenitude.
A independência humana se manifesta desde muito cedo. Quem nunca presenciou uma criança pequena se recusando a dar a mão ao pai para atravessar a rua? O menino deseja provar sua própria força e desafia, ainda que inconscientemente, os limites impostos por amor e proteção. Ele quer experimentar sua vontade, embora não tenha capacidade para julgar o perigo.
O mesmo princípio se repete ao longo de toda a vida. O adolescente que rejeita conselhos, o jovem que despreza a experiência dos pais, a moça que se revolta contra a orientação da mãe, a mulher que se indigna ao ser chamada a exercer seu propósito, o adulto que confia exclusivamente em seu próprio sucesso, e até mesmo o idoso que, por vezes, resiste em depender de outros. É o orgulho que se disfarça de independência, gerando uma satisfação arrogante de autossuficiência:
“A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda.”
(Provérbios 16:18)
“Confia no Senhor de todo o teu coração e não te estribes no teu próprio entendimento.”
(Provérbios 3:5)
Nesta era de autossuficiência e de relacionamentos rasos, brota no coração dos jovens uma sensação de desprezo pelos pais e por aqueles que Deus estabeleceu como autoridade. Isso gera um endurecimento que os leva a agir compulsivamente segundo o que pensam, sem considerar a sabedoria de quem os orienta.
Essa condição, paralelamente, faz crescer uma apatia em relação ao próximo, uma satisfação orgulhosa em seus próprios caminhos e uma propensão a viver por conta própria, recusando depender de qualquer cuidado.
“Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos. Pois haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes aos pais, ingratos, profanos…”
(2 Timóteo 3:1–2)
O Senhor, entretanto, deseja ajuntar os Seus filhos como a galinha junta os seus pintinhos debaixo de suas asas, protegendo-os, guiando-os e aquecendo-os com Seu amor.
“Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta seus pintinhos debaixo das asas, e não quiseste!”
(Mateus 23:37)
Mas muitos jovens, seduzidos pela ilusão de liberdade, desejam sair de debaixo das asas dos pais e viver uma experiência pessoal, solitária e rebelde, sem perceber que isso os expõe ao perigo e ao sofrimento.
“Há caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele são os caminhos da morte.”
(Provérbios 14:12)
“Filho meu, não rejeites a disciplina do Senhor, nem te enfades da sua repreensão.”
(Provérbios 3:11)
“Honra a teu pai e a tua mãe, que é o primeiro mandamento com promessa.”
(Efésios 6:2)
Assim, mesmo em meio a uma geração autossuficiente, endurecida e superficial, o chamado de Deus continua sendo um convite ao arrependimento, à humildade, à obediência e à comunhão: voltar a viver debaixo de Suas asas, na proteção do Seu amor e na segurança do Seu cuidado.
“Torre forte é o nome do Senhor; para ela corre o justo e está seguro.”
(Provérbios 18:10)
“O Senhor te guardará de todo mal; guardará a tua alma.”
(Salmo 121:7)
A verdade é que o ser humano não foi criado para viver isolado. Não há bebê que sobreviva sozinho. Toda criança depende de quem a alimente, a aqueça, a proteja, a ensine. Porém, à medida que cresce, passa a crer que pode andar sem ajuda.
“Senhor, o meu coração não se elevou, nem os meus olhos se levantaram; não me exercito em grandes assuntos, nem em coisas muito elevadas para mim. Decerto, fiz calar e sossegar a minha alma; qual criança desmamada para com sua mãe, tal é a minha alma para comigo. Espere Israel no Senhor, desde agora e para sempre.”
Salmos 131:1-3
Mesmo na maturidade, quando nos orgulhamos de resolver problemas, continuamos necessitados: de relacionamentos, de conselhos, de comunidade, de Deus. E, no final da vida, a dependência ressurge de modo ainda mais claro — nenhum idoso sepulta a si mesmo; ninguém nasce sozinho e ninguém se despede deste mundo sozinho sem que outro o auxilie.
A Palavra de Deus deixa claro que dependemos do Senhor em todo o tempo:
“Sem mim nada podeis fazer.”
(João 15:5b)
“O Senhor é o meu pastor; nada me faltará.”
(Salmo 23:1)
“Ele mesmo é quem dá a todos a vida, a respiração e todas as coisas.”
(Atos 17:25b)
Na Bíblia, vemos exemplos claros das consequências da independência rebelde:
Sansão: confiou em sua própria força e se afastou do propósito de Deus, sendo derrotado por seus inimigos (Juízes 16).
Saul: rejeitou a orientação do Senhor e perdeu o trono (1 Samuel 15:22–23).
O filho mais novo: declarou independência do pai, mas acabou miserável, descobrindo que a verdadeira liberdade estava na casa do pai (Lucas 15:11–32).
Por outro lado, aqueles que aprenderam a depender do Senhor encontraram vitória e paz:
Moisés: mesmo líder de milhões, declarou humildemente que sem a presença de Deus não seguiria adiante (Êxodo 33:15).
Davi: reconhecia que Deus era a sua rocha e fortaleza (Salmo 18:2).
Jesus: em Sua perfeita humanidade, declarou:
“Eu não posso de mim mesmo fazer coisa alguma” (João 5:30) — evidenciando total submissão ao Pai.
Por isso, o chamado de Deus para nós hoje é claro: rendição.
A palavra rendição (em inglês, surrender) significa abrir mão do controle, de submeter a própria vontade, reconhecer que não somos donos de nós mesmos e e submeter ao Senhor a preeminência de governar as nossas vidas
O mais significativo em tudo isso é que, praticamente, a rendição sempre se manifesta por meio do quebrantamento — um amolecimento do coração, uma disposição de ouvir, de acolher, e de se submeter também àqueles que se importam conosco e nos ajudam na caminhada.
Rendição não é passividade; ao contrário, é um ato ativo de fé, confiança e humildade diante de Deus, que se expressa também nos nossos relacionamentos pessoais com aqueles que nos amam e nos acompanham.
É entregar o trono do coração Àquele que tem todo o poder e toda a sabedoria. É reconhecer que nossa suficiência não vem de nós mesmos, mas d’Ele. É declarar, como disse o salmista:
“Entrega o teu caminho ao Senhor, confia nele, e ele tudo fará.”
(Salmo 37:5)
Em uma cultura que valoriza a independência, a autonomia e o orgulho de “se virar sozinho”, render-se ao Senhor e contar com o próximo pode parecer fraqueza. Mas, aos olhos de Deus, é exatamente o oposto: a rendição é o caminho para a verdadeira força e para a liberdade genuína.
Jesus nos ensinou sobre rendição em cada passo de Sua entre os homens. Ele declarou claramente:
“Pai, se queres, passa de mim este cálice; contudo, não se faça a minha vontade, mas a tua.”
(Lucas 22:42)
Ali no Getsêmani, Ele nos mostrou que surrender significa abrir mão até mesmo dos desejos mais profundos para conhecer e experimentar o propósito do Pai para a própria vida..
A rendição também nos chama a viver em aliança. Não se trata de um relacionamento casual ou distante com Deus, mas de uma comunhão íntima e permanente, onde Ele governa os nossos pensamentos, planos e atitudes.
Além disso, essa rendição nos conduz a reconhecer nossa interdependência com as pessoas que Ele colocou ao nosso redor — pais, cônjuges, amigos, irmãos na fé, líderes espirituais — pois ninguém foi criado para caminhar sozinho. Somos chamados a depender de Deus, mas também a cooperar e nos submeter em amor uns aos outros:
“Sujeitai-vos uns aos outros no temor de Cristo.”
(Efésios 5:21)
“Melhor é serem dois do que um… porque se um cair, o outro levanta o seu companheiro.”
(Eclesiastes 4:9–10)
Deus nos forma para viver em família, em comunidade, onde exercitamos o cuidado mútuo, o serviço e a humildade. Assim, a verdadeira rendição ao Senhor se manifesta também na maneira como honramos, escutamos e caminhamos ao lado daqueles que Ele nos deu.
A rendição também implica humildade: reconhecer que não somos autossuficientes, que precisamos ser guiados, ensinados e transformados. É assumir a postura de filhos que confiam plenamente no cuidado do Pai:
“Humilhai-vos, portanto, debaixo da poderosa mão de Deus, para que ele, em tempo oportuno, vos exalte.”
(1 Pedro 5:6)
Que possamos reconhecer desde cedo que a poderosa mão de Deus muitas vezes se revela através dos lábios que nos aconselham e das mãos que nos ajudam — aqueles que estão mais próximos de nós.
É urgente deixar de lado a independência orgulhosa e abraçar a vulnerabilidade de um coração quebrantado pela admissão de fraqueza. É aprender a esperar em Deus, sem forçar promoções antes do tempo, sem se apressar nas escolhas importantes e vitais da vida, sem dar passos sozinhos e sem soltar a mão Daquele que prometeu ser a nossa destra e companheiro fiel.
Lembre-se: a destra de Deus pode se manifestar na mão estendida de quem caminha ao teu lado.
Que Ele nos livre do engano da independência e nos conceda a alegria de viver todos os dias debaixo de Sua provisão, orientação e amor.
#ASONE
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