ENTRE ANJOS E ENGANOS: O LEGADO DE JOSEPH SMITH À LUZ DA VERDADE
Por Josimar Salum
Entre os fundamentos da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias — conhecida como Igreja Mórmon — está a crença na existência de um povo chamado nefitas, cuja história teria sido registrada em placas de ouro e traduzida por Joseph Smith no século XIX. O conteúdo dessas placas compôs o Livro de Mórmon, que, segundo seus seguidores, é um “outro testamento de Jesus Cristo”.
Entretanto, quando comparada à revelação das Santas Escrituras, essa narrativa apresenta contradições doutrinárias, históricas e espirituais. A Bíblia não menciona povos israelitas que tenham migrado para as Américas, nem há qualquer vestígio arqueológico ou linguístico que confirme a existência das civilizações descritas no Livro de Mórmon.
2. A história dos nefitas segundo o Livro de Mórmon
O Livro de Mórmon relata que, por volta de 600 a.C., um profeta chamado Leí, vivendo em Jerusalém, foi instruído por Deus a fugir da cidade antes de sua destruição pelos babilônios. Ele teria partido com sua família, liderada por seu filho Néfi, e após longa jornada pelo deserto, construído um navio e atravessado o oceano até chegar a uma nova “terra prometida”, identificada como o continente americano.
Seus descendentes formaram duas nações: os nefitas, seguidores fiéis de Néfi, e os lamanitas, descendentes de seu irmão rebelde, Lamã. As duas nações travaram guerras durante séculos. O livro afirma que, após Sua ressurreição, Jesus Cristo apareceu nas Américas, pregando aos nefitas e estabelecendo Sua Igreja entre eles.
Por volta do ano 400 d.C., os nefitas foram completamente destruídos pelos lamanitas. O último sobrevivente, Morôni, teria escondido as placas de ouro com o registro de seu povo. Mais de mil anos depois, o mesmo Morôni — já como anjo — teria aparecido a Joseph Smith, revelando o local das placas e ordenando sua tradução.
3. A revelação bíblica
A Bíblia apresenta um relato totalmente distinto. A revelação de Deus está centrada no povo de Israel, nas alianças divinas e na promessa cumprida em Jesus Cristo, o Filho de Deus. Toda a história bíblica acontece dentro dos limites conhecidos do mundo antigo — nunca nas Américas.
A Escritura afirma que Deus revelou Sua vontade por meio dos profetas e, por fim, falou plenamente em Seu Filho:
“Havendo Deus antigamente falado muitas vezes e de muitas maneiras aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho.” (Hebreus 1:1–2)
Além disso, a Palavra adverte contra qualquer nova mensagem que se apresente como revelação adicional:
“Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos anunciamos, seja anátema.” (Gálatas 1:8)
A revelação é completa em Cristo; não há espaço para outro evangelho, outro mediador ou outro fundamento além d’Ele.
4. Contradições essenciais
O Livro de Mórmon introduz uma narrativa paralela que contradiz princípios fundamentais das Escrituras. Ele afirma que o evangelho foi perdido e precisou ser restaurado por Joseph Smith, mas o próprio Jesus prometeu que Sua Igreja jamais seria destruída:
“Edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.” (Mateus 16:18)
O livro apresenta Morôni, um homem transformado em anjo, enquanto a Bíblia ensina que os anjos são seres espirituais criados por Deus e não seres humanos glorificados (Hebreus 1:14).
Ele descreve povos israelitas nas Américas, enquanto a Bíblia não contém qualquer menção a isso, nem a história, a arqueologia ou a genética confirmam essa migração.
O Livro de Mórmon também ensina que a salvação é alcançada pela obediência a mandamentos e ritos específicos, enquanto a Escritura revela que a salvação é dom gratuito de Deus, recebido pela fé em Jesus Cristo:
“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós, é dom de Deus.” (Efésios 2:8)
5. A ausência de evidências
Nenhuma descoberta arqueológica ou linguística sustenta o relato do Livro de Mórmon.
Não há ruínas, inscrições, moedas, templos, cidades, ou artefatos que comprovem a existência dos povos nefitas ou lamanitas. As línguas indígenas das Américas não possuem qualquer relação com o hebraico ou o egípcio — línguas que, segundo o livro, eram faladas pelos nefitas.
Além disso, estudos genéticos mostram que os povos nativos americanos descendem de populações asiáticas, não do Oriente Médio.
Portanto, o Livro de Mórmon carece de respaldo histórico, permanecendo como uma obra religiosa recente, criada em um contexto cultural do século XIX.
6. Morôni e o discernimento espiritual
Os Santos dos Últimos Dias afirmam que o anjo Morôni foi um mensageiro divino. Contudo, as Escrituras alertam sobre a atuação de espíritos enganadores que podem se disfarçar de anjos de luz. O apóstolo Paulo advertiu:
“E não é maravilha, porque o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz.” (2 Coríntios 11:14)
Toda revelação deve ser provada pela Palavra de Deus. Se o que é ensinado contradiz as Escrituras, não procede de Deus. O testemunho verdadeiro do Espírito Santo confirma o que está revelado na Palavra, não o que a contradiz.
7. A suficiência da revelação
A mensagem da Bíblia é completa. O Senhor já falou, e Sua Palavra permanece para sempre. O evangelho de Jesus Cristo não precisa ser restaurado, pois nunca foi perdido. O Espírito Santo é quem guia o povo de Deus em toda a verdade (João 16:13), e o Filho é o único fundamento da fé (1 Coríntios 3:11).
A revelação que veio por meio de Jesus e dos apóstolos é suficiente para a salvação, para a santidade e para o conhecimento de Deus. Nenhuma nova doutrina, nenhum novo livro ou profeta pode acrescentar ou modificar o que foi dito.
8. Considerações finais
O povo nefita, como descrito no Livro de Mórmon, é parte central da teologia mórmon, mas não encontra base nas Escrituras, nem em qualquer evidência histórica. A Bíblia permanece como a única revelação inspirada e preservada de Deus à humanidade.
As ideias que surgiram com Joseph Smith e o Livro de Mórmon refletem um esforço religioso humano de reinterpretar a fé, mas não correspondem ao testemunho eterno da Palavra de Deus.
Toda tentativa de acrescentar novos fundamentos à revelação já dada conduz à confusão espiritual.
Por isso, o chamado é claro: permanecer firmes na verdade revelada nas Escrituras, onde está toda a plenitude de Deus em Cristo.
“A tua palavra é a verdade.” (João 17:17)
“Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e eternamente.” (Hebreus 13:8)
9. A expansão da Igreja dos Santos dos Últimos Dias e o contraste com o testemunho das Escrituras
Desde sua fundação em 1830, a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Diascresceu de um pequeno grupo nos Estados Unidos para uma organização mundial com milhões de membros, templos e missionários em dezenas de países. Sua expansão foi impulsionada por uma estrutura disciplinada, uma forte cultura de evangelismo e a crença de que Joseph Smith restaurou o evangelho “verdadeiro e completo”.
Essa mensagem atraiu muitos que buscavam uma fé com revelações novas, uma identidade comunitária sólida e uma visão de propósito espiritual e familiar. Os mórmons apresentam-se como o povo que vive o evangelho “restaurado”, com profetas modernos, templos e uma hierarquia centralizada em Salt Lake City.
Contudo, essa expansão não significa que sua doutrina esteja em harmonia com o testemunho das Santas Escrituras. A força institucional da Igreja dos Santos dos Últimos Dias não substitui a fidelidade à Palavra revelada por Deus. Enquanto o movimento se apoia em revelações contínuas e profetas vivos, as Escrituras ensinam que a revelação de Deus foi completa em Cristo e transmitida uma vez por todas aos santos (Judas 1:3).
A verdadeira Igreja — o Corpo de Cristo — não se define por templos, hierarquias ou crescimento numérico, mas pela fidelidade ao evangelho original e pela permanência na palavra do Senhor. A autoridade espiritual não vem da tradição humana, mas do Espírito Santo que confirma a verdade da Palavra.
O contraste entre o crescimento da Igreja dos Santos dos Últimos Dias e o testemunho das Escrituras revela uma diferença essencial: uma religião pode expandir-se pelo zelo humano, pela organização e pelo esforço, mas somente a Palavra viva de Deus transforma o coração e conduz à comunhão com o Pai, por meio do Filho, no poder do Espírito Santo.
Assim, mesmo diante do avanço mundial da doutrina dos nefitas e do Livro de Mórmon, o chamado de Deus permanece o mesmo: permanecer firmes na fé entregue uma vez por todas, discernindo os espíritos, examinando as doutrinas e guardando o testemunho de Jesus.
10. Conclusão Editorial
A expansão global do mormonismo representa um fenômeno religioso singular: uma fé nascida nos Estados Unidos do século XIX que alcançou todos os continentes, apresentando-se como uma restauração da verdade. No entanto, à luz das Santas Escrituras, sua mensagem não restaura o evangelho — antes, o substitui por uma versão humana, moldada por revelações tardias e por um sistema doutrinário que nega a suficiência da obra de Cristo e da Palavra de Deus.
O impacto cultural do movimento é notável, mas sua força organizacional não pode ser confundida com a presença do Espírito de Deus. A Igreja de Jesus Cristo não é edificada sobre novas visões, nem sobre supostos anjos ou novas escrituras, mas sobre o fundamento eterno de Cristo, o Filho de Deus, que falou de uma vez por todas por meio do evangelho.
Em um tempo em que muitos buscam experiências espirituais novas, o chamado do Senhor continua sendo o mesmo: voltar à Palavra. É nela que encontramos a verdade, a graça e a salvação; é nela que conhecemos o Deus vivo e eterno, o único que pode transformar o coração humano e conduzir o homem à comunhão com o Pai.
Toda doutrina, instituição ou revelação deve ser medida por esse padrão imutável:
O Livro de Mórmon pode ter influenciado culturas e moldado sociedades, mas apenas as Escrituras inspiradas têm o poder de dar vida, regenerar e libertar o ser humano da mentira e do engano.
O testemunho eterno permanece:
“A tua palavra, Senhor, para sempre está firmada nos céus.” (Salmo 119:89)
E, diante de toda nova doutrina que surge no mundo, a resposta permanece inalterada:
“A tua palavra é lâmpada para os meus pés e luz para o meu caminho.” (Salmo 119:105)
Assim termina este testemunho — não de um novo evangelho, mas do mesmo Evangelho eterno do Reino, revelado em Jesus Cristo, o Senhor de todos.

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