Tendo participado ativamente como um dos organizadores do Primeiro Congresso Internacional Visão Mundial - BMNET - IGREJA/CIDADE: Tempo de Conquista, realizado no mês de maio, em Wayland (Terra do Caminho), no Estado de Massachusetts, Estados Unidos, fiquei imensamente feliz ao ler os textos de Ronaldo Martins e Ricardo Gondim refletindo sobre os temas abordados, especialmente, concernente à questão imigratória.
Segundo minha percepção, parece que começa por aqui, nas terras do Tio “$am”, um debate necessário sobre a realidade da igreja evangélica brasileira.
Segundo Ricardo Gondim, a situação dos brasileiros evangélicos na “Diáspora” (os imigrantes evangélicos que residem em algum país do exterior) denuncia a realidade da igreja evangélica no Brasil.
O artigo de Ronaldo foi escrito do ponto de vista jornalístico e crítico.
A palestra de Paul Freston, citada por Ronaldo, foi baseada em dados apurados em pesquisa.
O “profeta pesquisador” falou da realidade da igreja evangélica na “Diáspora” com base em fatos e não em presuposições ou imaginações. As revelações deste profeta vêm da Sociologia. De forma piedosa, sem emitir nenhum juízo, ele discorreu sobre os resultados de seu empreendimento científico.
Para minha satisfação, muitas das questões que ele apresentou tenho abordado abertamente em minhas aulas no Seminário onde leciono. Portanto, ouví-lo, aumentou mais a inquietação e meu desejo de meditar mais sobre o assunto e a necessidade de ouvir outros na busca do Caminho. Reunímo-nos naqueles dias verdadeiramente na Terra do Caminho!
Muitas questões foram levantadas em ambos os artigos e meu desejo aqui é apenas levantar algumas outras do ponto de vista de um imigrante.
Primeiramente, preciso deixar claro que minhas palavras quando enfáticas não são palavras rancorosas ou enraivessidas. São apenas estilo e fruto de minha sinceridade.
E em segundo lugar, preciso esclarecer que é exagero de Ronaldo dizer que as indagações de “Paul Freston caíram como uma bomba” no congresso, ou seja, a publicação do fato de que a maioria absoluta dos evangélicos brasileiros e grande parte dos pastores são ilegais no país. A tal da bomba não tinha estopim. Não estourou e nem podia estourar, é bomba velha! Nós já sabíamos disto.
Ilegal é o termo técnico e político. Na Teologia do Imigrante usamos o termo “indocumentado” que é misericordioso, pois ilegal mesmo é o diabo!
Os missionários visitantes
Alguns pregadores que por aqui passam afirmam que os que são indocumentados devem voltar para o Brasil. São oportunistas. É intrigante o fato de usarem nossos púlpitos para dizerem isto. Mais intrigante quando recebem nossas ofertas gordas em dólares americanos – dinheiro de dízimos e ofertas de imigrantes indocumentados, diga-se de passagem, de gente dígna que trabalha duro, gente abençoada.
A maioria (95%) dos pregadores convidados que vêm pregar nos Estados Unidos vêm com o Visto B1-B2 (de turista). Os que vem participar de conferências com este tipo de visto, pela Lei, podem ser apenas ouvintes, não preletores.
As ofertas que recebem deveriam declarar ao fisco americano. Provavelmente não declaram nem ao fisco brasileiro. Podem declarar se quiserem, pois o Governo Americano emite legalmente um documento (ITIN – uma certa identidade de pagador de imposto). Os imigrantes indocumentados trabalham ilegalmente, mas legalmente pagam impostos com este número fornecido pelo Governo. Pura hipocrisia!
Aqueles pregadores visitantes ao pregarem sem autorização são ilegais por uma semana ou por um mês ou dois. Os outros por muitos anos. Dá no mesmo.
Para pregar ou cantar em igrejas e receber ofertas é preciso portar o visto religioso, pois aqui na terra do Tio “$am” pregar o Evangelho é “profissão” e para receber oferta (honorário) tem que ter visto apropriado. É tão ilegal quanto é ilegal grande parte de evangélicos sonegarem impostos em seu país. É pecado sonegar impostos?
Além de ilegal, é pecado e vergonhoso aqueles que, por exemplo, se compactuam com políticos corruptos evangélicos e não evangélicos. Há uma dezenas de exemplos. É possível ser ilegal no próprio país.
O Movimento Evangélico no seu fim
Lá e aqui, no Brasil e nos Estados Unidos, constato o fim da “Era Evangélica.” A Era Protestante acabou-se antes da virada do século e no início do novo é a vez do Movimento Evangélico. Deus está fazendo coisa nova. Uma nova era está sendo inaugurada nestes dias que alguns estão denominando “A Nova Reforma.” Este é outro assunto...
Esta discussão burguesa, intelectual, farisaica que se desenvolve no meio evangélico que não traz nenhuma resposta prática na vida de milhares de evangélicos que vivem lá e aqui é a declaração de óbito do movimento evangélico. Há crise: é de caráter! Onde se prega o que não vive a morte impera livre. A credibilidade é escassa. Todo movimento que perde a credibilidade se extingue.
O movimento evangélico não consegue se auto definir mais, distanciou-se de suas raízes históricas. A árvore cresceu, é frondosa, porém velha e só dá frutos raquíticos. Todo o movimento onde seus interlocutores não conseguem definí-lo já morreu. Falta enterrar. Foi assim com o comunismo em muitos países. E a Igreja segue triunfante, pois a Igreja cujas portas o inferno não pode prevalescer não é “a igreja evangélica.” Definitivamente.
Observem só! É preciso inventar novos métodos, fazer marabalismos enormes – teológicos, de “praxi”, seguir uma nova corrente sempre, atrair pelo “marketing”, modernizar a mensagem, suportar o “movimento gospel – um mercado de bilhões de reais e a pobreza de nossos irmãos continua a mesma. Um movimento que precisa de novidades sempre é um defunto coberto com flores frescas.
Os imigrantes brasileiros, gente que sofre, está longe da esposa, dos filhos, lutando pela sobrevivência, sonhando com uma vida melhor, precisam de uma Palavra de Deus para aliviar suas dores e se estiverem na miséria do pecado precisam de libertação. “O Senhor me ungiu para pregar boas novas aos mansos e libertar os cativos...”
Digo que o movimento evangélico faleceu, pois é só discurso, e boa parte das vezes é discurso revestido de uma falsa espiritualidade que se transcende aos céus porque não consegue responder as questões da vida aqui na terra.
É discurso espiritualista hipócrita e soberbo pois não traz respostas para a vida das pessoas, ao contrário, aumenta a culpa e a miséria delas. E aí me lembro de Jesus e fico acalentado: “Misericórdia quero e não sacrifício...”
O Evangelho continua o mesmo Evangelho! Mas a pregação do evangelho de hoje é somente ética, moralista e muito capitalista – aqui na América rica e lá na América adormecida. Ora os que chegaram aqui vieram de lá. O problema vem de lá e não daqui. Raciocínio lógico. A maioria dos pastores que conheço aqui são gente honesta e de caráter. É preciso pensar muito em apontar o dedo sem misericórdia!
É assim que este discurso acefálico me irrita, mais do que as constatações do irmão Paul. Já não basta os pecados e os demônios muitíssimos, para fabricarem mais alguns! Dá um tempo, por favor!
Os imigrantes brasileiros nos Estados Unidos
Brasileiros, os fatos aqui são estes! Fatos do dia a dia, de muitos anos.
A maioria dos imigrantes que entraram e vivem neste país não portavam documentos legais para trabalharem e residirem aqui. Uma ínfima minoria de pastores chegaram aos Estados Unidos de posse do “Green Card” (visto permanente). Grande parte dos pastores que têm hoje “Green Card” um dia foram indocumentados.
O imigrante, por natureza conquistador (se não fosse, teria permanecido no Brasil) ora para que Deus mande um coiote abençoado e o dinheiro (em torno de dez mil dólares) para pagar a travessia e ora para passar pela fronteira sem ser pego.
Quando não vem pelo México, vai no Consulado Americano e diz que vai visitar os Estados Unidos para passeio; até escreve no formulário. O Cônsul, muito desconfiado, concede o visto de turista.
Assim o imigrante entra no país meio legal pela porta da frente e o agente da imigração não vê o que entra totalmente ilegal. Meio legal pois tem o visto para entrar e permanecer por uns dias, mas não para trabalhar e residir aqui.
Nem um nem outro poderiam trabalhar, nem os pastores pregarem nem os cantores cantarem. Mas me parece que Deus abençoa toda esta gente, pois continuam entrando aos milhares. Para ser honesto comigo mesmo, abençoa até os incrédulos, inclusive, que nem oram e mesmo assim passam pela fronteira livremente.
Se este “raciocínio teológico” está certo (nem toda a questão da vida tem que ser medida eticamente), parece que Deus fecha os olhos quando esta multidão passa pela fronteira ou então está bem de olhos abertos e os deixa aos milhares entrarem nos Estados Unidos, deixando serem presos somente uma minoria, por “incompetência das autoridades”, como afirmam alguns Senadores Americanos.
Os Estados Unidos foram fundados por estrangeiros. Os Pilgrins, como são historicamente conhecidos, grande parte cristãos. Aos cristãos imigrantes de hoje eu os chamo de “Os Últimos ou Novos Pilgrins.” É a História que se repete.
O que a Bíblia fala a respeito de Imigração?
Penso que a Bíblia tem muito a dizer sobre imigração. Tenho folheado as páginas da Bíblia com olhos de imigrante e tenho meditado nisto há alguns anos.
A Bíblia é por excelência um livro de história de imigrantes. De Gênesis a Apocalipse este tema predomina. Desde Abrãao a João na Ilha de Patmos a Bíblia narra a história de homens e mulheres que deixaram sua terra natal para viverem em terra alheia.
A Bíblia é a Revelação do Deus dos Imigrantes. Do Deus que proteje e defende os imigrantes. Que ordena a Israel a tratar bem os imigrantes, a alimentá-los pois no passado também foram imigrantes.
A Bíblia narra a história de Seu povo peregrino em terra estranha. A História de José no Egito, de Rute a estrangeira em Israel e de Daniel na Babilônia. A história dos discípulos feitos imigrantes pela grande comissão de Jesus. Atos dos Apóstolos é uma grande tratado de imigração. A Bíblia é em geral a história de cidadãos dos céus, portanto, estrangeiros e peregrinos nesta terra estranha.
As duas ordens diretas de Deus para abençoar os povos da terra são na sua natureza e missão imigratórias.
Para Abrão: “Sai-te da tua terra e da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que Eu te mostrarei.” (Gn. 12:1) Em outras palavras Deus ordenou a Abraão: “Imigrai...”
E Abrão imigrou, cruzou fronteiras. Para sobreviver em terra estranha chegou até a mentir (no episódio de sua mulher e Faraó). Imigrante indocumentado vive com o dilema diário da mentira atormentando a vida. Abraão foi muito abençoado. Imigrante cristão, descendente de Abraão também.
A Abraão Deus prometeu uma terra estranha por herança. Ele mesmo não herdou a terra em vida. O único pedaço adquiriu por compra para poder enterrar sua esposa, também peregrina com ele.
Por centenas de anos, ele, seus filhos, netos e descendentes foram simplesmente estrangeiros. Que por fim herdaram a terra prometida. De fato, tiveram que conquistá-la.
Geralmente as gerações seguintes dos imigrantes se tornam poderosos na terra e é apenas uma questão de tempo para vermos isto acontecer com os nossos filhos brasileiros (os brazucas).
E a segunda ordem de Deus, foi dada por Jesus, quando disse aos Seus discípulos: “Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda a criatura...” (Mc. 16:15). Em outras palavras Jesus ordenou: “Imigrai...”
É ilegal pregar o Evangelho em terra estranha sem visto, mas não estou convencido de que seja pecado.
Sem querer exagerar, o próprio Jesus era estrangeiro nesta terra. Ele mesmo disse: “Não sou deste mundo...” É verdade que todos nós somos peregrinos e estrangeiros neste mundo. (I Pe. 2:1)
Vou terminar relatando como fato minha experiência.
Há três anos atrás ao compartilhar algumas destas expressões com um amigo americano, ele retrucou perguntando: “Vai agora desenvolver uma teologia inteira do imigrante através da Bíblia?”
Por que não? Tenho pesquisado na Palavra de Deus o que Ele diz a respeito de imigrantes e tenho sido muito abençoado com as verdades que descobri.
Sem demagogia. Sem moralismo. Abertamente tenho falado e escrito sobre isto. Enfrentando a realidade, onde a ética é um constante conflito na vida de muitos que ousaram viver na “ilegalidade” em terra estranha.
Vida de imigrante não é fácil. Meu bisavô era libanês e foi viver no Brasil no início do século passado, fugindo dos turcos que invadiram o Líbano. No Brasil, meu avô contava, passou até fome. Morreu ainda jovem, vítima da miséria.
Eu mesmo imigrei para os Estados Unidos, como missionário, fixando com minha família, nossa residência definitiva neste país a partir de 1997.
Nos últimos anos millhares de brasileiros imigraram-se para os Estados Unidos em busca de uma vida melhor, dentre eles millhares de cristãos genuínos que ousaram desafiar as leis do país e a conflitarem suas consciências por isto, e vivem aqui, peregrinos em terra estranha, vencendo na vida, pregando o Evangelho e vivendo como Igreja.
Para mim, não sei para você, mas para mim as palavras do Espírito Santo devem nortear esta questão toda:
“De um só fez toda a raça humana para habitar sobre toda a face da terra, havendo fixado os tempos previamente estabelecidos e os lugares onde iriam habitar.” (At. 17:16, NIV)
E aqui chegamos, com visto ou sem visto, às terras norte americanas.
“Os que saíram para a Terra do Norte fizeram repousar o Meu Espírito no país do Norte.”, assim diz o Senhor.
2 comentários:
Muito bom este tratado de imigração.
Parabéns, pr. Josimar pela coragem em encarar este assunto. Deus continue abençoando seu apostolado neste país.
Pr. Waldir
pastor paz e graca moro no japao a 16anos e samos da igreja bethel brasileira e samos tambem so que com visto de trabalho mas gostaria-mos de ir para america para ajudar na obra e trabalhar e ajuda ou palavra de orientao poderia nos dar a esse respeito aguarda-mos respostaque deus abencoe o senhor e sua familia feliz 2007
Postar um comentário