É dificil compreender a dinâmica dos processos sociais da comunidade brasileira nesta cultura americana.
A grande maioria dos brasileiros vive fechada em guetos: as comunidades eclesiásticas, os clubes noturnos, os times de futebol, as redes de televisão, as rádios e os jornais brasileiros, os piqueniques em parques e os encontros de fins de semana de famíliares e amigos.
A típica família brasileira encontrou aqui o sustento e o recurso para viabilizar seus sonhos, apesar de viver ilhada entre fronteiras culturais e sociais da realidade e sociedade americanas.
Os milhares de “desintegrados” – solteiros, casados, divorciados, cônjuges que deixaram seus pares no Brasil, jovens e adultos sem conta encontram aqui o recurso para viabilizarem os seus sonhos em detrimento do sustento que é na verdade, uma alimentação sadia, moradia descente e confortável, convívio dos familiares (ver os filhos crescerem), lazer, estudos, etc.
A sociedade americana recusa-se a absorver este povo valente e sofrido porque é plena de “desintegrados.” De fato, os problemas de uma comunidade imigrante por si só a distinguem dos nativos da terra. Por isto, quando os problemas dos nativos se tornam os nossos problemas é que passamos a possuir em vez de ser possuídos, a liderar em vez de ser liderados, a viver ao invés de conviver e a existir em vez de viver na sombra.
As centenas de famílias impactadas pela prisão dos imigrantes de New Bedford refletem uma realidade cruel que a sociedade americana quase na sua totalidade ignora, pois lêem a notícia simplesmente desta forma: “Um bando de transgressores da lei foram presos.”
Por outro lado, a comunidade imigrante solidariza-se por empatia pois é a sua própria história, os filhos e filhas que ficaram em casa chorando, as mulheres amedrontadas pela insegurança e as famílias divididas. A prisão justificada sob o ponto de vista da lei tem consequências desumanas.
A lei precisa ser cumprida, e se assim for, milhões de imigrantes terão que ser deportados. Como isto é impraticável, gera-se aqui uma situação de hipocrisia e de uma injustiça descomunal. A mesma hipocrisia histórica que proibe o imigrante de trabalhar legitimamente, mas já que trabalha conceda-se a ele o “ITIN” para pagar seus impostos.
Há ainda brasileiro que discute consigo que “se me derem a legalização passo a pagar meus impostos, se não, vou embora quando quiser, se não me pegarem.” Vive-se a “ilegalidade” em todo o seu potencial. É preciso mudar de mentalidade.
Primeiro, precisamos dar a volta e parar simplesmente de reagir a todos os acontecimentos. Ainda que tenhamos que solidariamente reagir, o curso a seguir é a liderança no debate e a união gerando representatividade para mudar a fonte dos problemas do imigrante. A maior fonte dos problemas imigratórios é a Lei. A Lei precisa ser mudada.
Segundo, se não assumirmos e não nos solidarizarmos com os problemas da sociedade americana, se estes não se tornarem os nossos problemas, continuaremos vivendo a mentalidade da minoria. A maioria concede algumas benesses à minoria numa relação subserviente que rouba a identidade e a dignidade de nossa gente. A minoria é o apêndice da sociedade. Basta. É preciso ser e pensar como o corpo.
Terceiro, nossos filhos estão liderando naturalmente esta mudança de comportamento social neste êxodo até a sua chegada final. Muita gente ainda continua até hoje imigrando nos seus comportamentos, pensamentos e atitudes. Basta. A integração à sociedade americana levará nossa gente a sair da alienação para uma participação em sua vida cotidiana com possibilidades grandes de influenciarmos na cultura e no pensamento. Ao contrário, por exemplo, as igrejas que insistirem em continuar com seus “cultos brasileiros” deixarão de existir em poucas décadas. É preciso mesclar nossas culturas. É preciso deixar de pensar e ser só brasileiro.
Quarto, as associações comunitárias e as igrejas precisam liderar este processo de integração. Um exemplo negativo foi o episódio da “bandeira brasileira aviltada por um cidadão de Marlboro.” A reação da comunidade brasileira foi irracional. Precisamos debater problemas tangíveis e não simbolismos. Ao condenar a atitude do cidadão, condenamos juntos nosso direito de liberdade de expressão. Basta. Bandeiras americanas foram queimadas nos últimos dias nas ruas brasileiras em protesto à visita do Presidente Bush. Queima-se bandeiras, mas não se pode queimar a honra, a integridade, a história e a vida de uma nação.
E por último, é preciso ter a capacidade para pensar como americano. É preciso, pensando como um americano, descobrir como vamos construir pontes para que nossos pensamentos se encontrem e gerem soluções de convivência para todos. Pensemos, pois, o bem comum numa relação de amizade, de compreensão mútua e de construção de uma sociedade melhor.
É ordem divina: “E procurai a paz da cidade, para a qual fiz que fôsseis levados cativos, e orai por ela ao Senhor: porque na sua paz vós tereis paz.” A Paz vem quando a Justiça é estabelecida. Oremos pois pela Paz, mas além de orar, trabalhemos e lutemos pela Justiça.
Josimar Salum é diretor executivo do BMNET – Brazilian Ministers Network (http://www.bmnet.org/ & http://www.bmnetblog.wordpress.com/) e Diretor do Greater Revival Ministries (http://www.jsalum.blogspot.com/)
Um comentário:
Acho que o brasileiro no exterior não merece sequer ter Igreja evangélica porque não são convertidos. Então uma pessoa que falsifica documentos para ingressar nos EUA, é cristã? É nova criatura? E na Europa, ficam ilegais, a maioria traficando ou se prostituindo. Adianta Igreja para essa gente? Olha, sinceramente, não gosto de encontrar brasileiro quando vou ao exterior.
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