10 março 2014

Uma Análise do Humano nas Comunidades Eclesiásticas Brasileiras.

Josimar Salum

Publicado originalmente em 14/03/2009

As comunidades eclesiásticas evangélicas e protestantes de Lingua Brasileira nos Estados Unidos são extensões das mesmas entidades eclesiásticas do solo brasileiro.


As “igrejas” das Assembléias de Deus na Grande Boston e em outras cidades e vilas de Massachusetts, por exemplo, importadas do Brasil, foram trazidas reproduzindo a mesma fragmentação do Brasil, e embora sejam unformizadas por pertencerem a mesma denominação, são oriundas de ministérios diferentes, cada um destes ministérios, os mais significativos, procurando estabelecer nas terras americanas sua representação.

É comum encontrar aqui quase todos os Ministérios das Assembléias de Deus do Brasil. 

Aquelas igrejas que surgiram de divisão de outras Assembléias estabelecidas, acabaram recebendo apoio de algum outro ministério do Brasil e quando não, permaneceram mesmo solitárias empunhando a bandeira da Assembléia: a placa lhes dão legitimidade, o importante é manter o nome, mesmo independentes, e sua liturgia e eclesiologia as identificam. Porém, comum a todas são as divisões que acontecem sempre e pelos mais variados motivos.

A fragmentação do chamado Ministério de Boston, ou Igreja do Avivamento Mundial, produzida especialmente em consequência da publicação do Livro “O Triunfo Eterno da Igreja” e de outros fatores não somente doutrinários e litúrgicos, mas de ordem financeira, produziram muitas igrejas também chamadas Assembléias de Deus ou Ministérios, os mais diversificados, com nomes variados, baseados na figura de seus fundadores. Deste modo reproduzem a mesma estrutura e o mesmo “status quo” da “grande mãe.”

As igrejas Batistas, fundadas por pastores da Convenção Batista Nacional (conhecida como Igreja Batista Renovada), também implantaram igrejas aqui na mesma linha da Renovação Espiritual, com tradições batistas.

Foram fundadas independentemente sem ligações entre os líderes entre si. Aqui a maioria destas igrejas passaram por divisões seguindo os mesmos processos de divisão nas terras brasileiras. Parece-me que carregam este DNA. Não conseguiram permanecer unidos como denominação. Nem mesmo através da CIBRA – que por um bom período agrupou estas igrejas numa harmonia bem exemplar e nem mesmo através da ALIANÇA ligada às Igrejas Batistas Americanas. Estas por sua vez se reuniram representadas por líderes de diferentes grupos e seguimentos batistas renovados, mas exacerbaram aqui as grandes diferenças que já tinham no Brasil.


As Igrejas Batistas fundadas por pastores oriundos das Igrejas Batistas da Convenção Batista Brasileira, ligadas nos Estados Unidos, pela Convenção Batista do Sul, mantém um bloco mais homogêneo, por força da tradição e doutrinas batistas, porém apresentam uma tensão entre si bem dinâmica, pela dificuldade de reconciliação e convivência de alguns líderes, que por sua vez, mantendo o DNA dos irmãos Nacionais seguem se dividindo e se multiplicando sempre com o apoio final da Convenção que oferece sua “sombrinha” para todos, desde que permaneçam Batistas.

As Igrejas do Evangelho Quadrangular também se reproduziram e se mantém fiéis à versão brasileira. Por muitos anos têm sido supervisionadas por uma liderança mansa e amiga, reconciliadora, bem politizada, que mantem o grupo unido, motivado e fiel às raizes denominacionais, mas que protege a versão brasileira da influência americana, mantendo esta apenas como cobertura político-eclesiástica. Enquanto durar esta proteção, os brasileiros seguirão avançando e crescendo.

Seguindo esta linha de importação, a Comunidade Cristã Fonte da Vida, os Adiventistas do Sétimo Dia, a Igreja Maranata, os Presbiterianos, os Metodistas, outras denominações e ultimamente a Igreja Internacional da Graça, cada uma já marcam a sua presença representativa nas terras do “Tio $am.”

Os movimentos do G-12, da Visão Celular e da Igreja com Propósitos permearam o universo das igrejas evangélicas nos últimos anos, gerando em todo o canto, aceitação plena, ou rejeição exagerada ou indiferença. É que muitos pastores e líderes sem se preocuparem com a força da uniformização destes movimentos, mantiveram-se vivenciando ao seu peculiar modo de existir e com o que já estavam fazendo e com o que já estavam envolvidos.


Outros grupos considerados por muitos seguimentos evangélicos como proscritos, surgiram à parte deste universo evangélico brasileiro nos Estados Unidos, como a Igreja Local e a “Comunidade dos Discípulos” como é identificada por alguns.

E à revelia teem surgido outros grupos de crentes que se reunem nas casas por terem rompido com o modus evangelical eclesiástico vigente, com tendências de se multiplicarem e de crescerem. Não têm “pastor” e se reunem para orar, ler e estudar a Bíblia e terem comunhão, observando um mínimo de estrutura. George Barna no livro “Revolução” constata estatisticamente que este é o seguimento que mais cresce nos Estados Unidos.

No meio deste universo, muitos pastores fundaram igrejas independentes e comunidades as mais variadas, geralmente organizadas como frutos de rompimentos com grupos estabelecidos, como subdivisões das divisões no processo prematuro histórico recente destas igrejas “evangélicas”, gerando ordenações de obreiros apenas por necessidade de justificarem sua liderança sobre estas novas igrejas ou mesmo por auto reconhecimento, passando a se auto denominarem de “pastores ou pastoras” ou “apóstolos”.

Neste grupo ainda encontram-se os que foram achados em alguma falta, especialmente moral, e rejeitando a disciplina do grupo onde estavam inseridos, romperam com o grupo, divorciaram-se, casaram-se novamente e começaram novas igrejas. Com o passar do tempo, geralmente em alguns poucos anos, passam a serem aceitos dentro da comunidade dos pastores de uma certa região.

Quem olha de fora imagina que haja uma grande organização por trás de tudo isto, que promove esta diversificação enorme, que engendra esta implantação de tantas igrejas como se fora resultado de um planejamento estratégico.

De fato, em parte, é em alguns poucos grupos o processo normal de um crescimento planejado. Mas em sua maioria é um grande caldeirão de relacionamentos rompidos, de rejeição conveniente dos padrões bíblicos, de uma aversão à praxis e ética do Novo Testamento, de uma dinâmica de convivência difícil produzida pela luta pelo “poder eclesiástico”, pela luta pela sobrevivênca ou simplesmente por avareza, por causa da intolerância, da discórdia e da pobre compreensão da vocação e do chamado ministeriais.


Todas estas comunidades eclesiásticas, teem em comum, com raríssimas excessões, o desenvolvimento de uma mesma liturgia nas suas reuniões, que chamam de “culto” ou “celebração”. 

Todos os cultos basicamente em qualquer “igreja” teem o período de louvor, um período de orações ou da oração, dos avisos, do testemunho, das apresentações de cantores, conjuntos ou grupos de dança, da oferta (que atualmente toma boa parte do tempo), da pregação, do apelo, da ida ao altar e da oração pelos que atendem ao apelo.

Tudo é previsível e já se espera o que vai acontecer. Esta uniformidade das igrejas evangélicas reflete uma forma de culto centenária. Esta baseada no dirigente, que geralmente é o pastor, e não tem a participação do grupo de crentes intensivamente, mas de alguns esporadicamente e exclusivos.

Na maioria das igrejas, especialmente as pentecostais e as neo-pentecostais, o culto sempre tem que trazer elementos de atração ou novidades, e é carregado de muitos simbolismos e atos, que em alguns seguimentos, chamam de “atos proféticos”. A personalidade é marcante, distinta, carrega uma iluminação especial, opera algum milagre, o povo espera dele ou dela a benção... O sacerdócio real dos crentes foi esquecido!

Na maioria das igrejas a Teologia Bíblica, a Pregação Expositiva da Palavra e a Pregação da Mensagem da Cruz tornaram-se raridades, pois o que é valorizado é a experiência espiritual ou a prática, mesmo que não tenha embasamento bíblico. Verbalizando, a coisa é mais ou menos assim: se dá resultado, deve ter a aprovação de Deus!

O texto bíblico funciona sempre como pretexto para se transmitir a Revelação Especial de Deus, que em última análise, nem confere com as Escrituras, é um caso. 

A interpretação do texto é livre, cada palavra embora com significado próprio, é apenas o instrumento da “exegegue” que justifica o discurso já antes preparado, sem sequer ter sido consultado e interpretado previamente o texto das Escrituras. 

As expressões “Deus me revelou” ou “Deus me disse” são comuns, e atribuem ao lider uma autoridade quase absoluta e inquestionável, pois afinal de contas quem ousaria questionar o que Deus fala e quem ousaria contradizer ou mesmo dialogar com um homem ou uma mulher tão próximo de Deus.

O perigo de uma certa divinização do líder é quase inevitável com implicações éticas liberalizantes, pois a quem Deus fala assim passa a viver acima de qualquer repreensão e ter o direito de fazer o que quiser.

Na maioria das igrejas a música segue sempre uma moda atual vigente, assim é comum assistirmos os estilos, os trejeitos, os modos virem e irem. Houve tempo em que se adorava de costas. Passou! Aí devíamos deitar... E todo mundo deitava... E assim por diante... Faltando uma genuinidade e expontaneidade natural nos adoradores sem se preocuparem em seguirem formas e modelos massificados pela mídia evangélica.

A maioria das igrejas copia sempre a maior influência do momento e se sujeita a seguir modismos que tornam todo mundo igual por fazer as mesmas coisas sempre até que algo novo surja.



É preciso ensinar aos crentes e aos pastores que o culto que se oferece a Deus é racional. 

Não anulamos as emoções porque Deus é um Deus tão cheio de sentimentos como nós somos, mas é preciso arrazoar para não continuarmos sendo estações repetidoras ao invés de nos tornarmos estações transmissoras. 

Gente que raciocina a Palavra e dialoga a Palavra, porque o tempo de amadurecer chegou tanto quanto o de aumentar o discernimento das coisas espirituais.

Urge imediatamente uma análise não humana, mas de Deus sobre nós. “Sonda-me, ó Deus...”

Nossa relevância para conosco mesmo é medida pela profundidade de nossa honestidade ao sermos iluminados pela Luz da Palavra, e conscientemente ressonarmos o que a Palavra diz a nosso respeito.

Não podemos brincar de faz de conta. Não podemos amenizar a nossa dor e o sofrimento
produzidos pela tristeza que vem Deus que opera o arrependimento “decretando” a diminuição da “espada de dois gumes que penetra até a divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração.” (Hb 4:12)

É preciso repensar e estudar nas Escrituras o que significa Igreja e Reino, porque acho que não experimentamos ainda nenhum nem outro.

É preciso encontrar a Palavra na Palavra de Deus Escrita.

É preciso renunciar a todo o misticismo que nos afasta da Cruz de Cristo.

É preciso rogar, chorar e gemer se preciso for, para conhecermos o que significa sermos aprovados por Deus, porque se esta igreja estampa em si algum carimbo, é este: “Desaprovada por Deus.”

É preciso renunciar a todo o simbolismo e ritual medievais, pois não precisamos de sombras para nos achegarmos a Cristo, só precisamos ir.

É preciso restaurar o centralização da Mensagem e Teologia Bíblicas, mesmo que isto custe a perda das multidões e consequentemente de seus dízimos e ofertas.

É preciso pregar expositivamente a Palavra de Deus significando todo o Conselho de Deus, ainda que nos custe horas de estudos das Escrituras e aquelas orações com gemidos inexprimíveis que há muito não conhecemos mais, se é que as conhecemos algum dia.

É preciso pregar e proclamar da Mensagem da Cruz e viver a obediência do que significa renunciar tudo, tomar a Cruz e seguir a Cristo.

Josimar Salum
Pompano Beach, FL USA
14/03/2009

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