05 junho 2025

DÍZIMO NÃO É MANDAMENTO PARA OS DISCÍPULOS DE JESUS: UMA LEITURA BÍBLICA E APOSTÓLICA Por Josimar Salum

 


DÍZIMO NÃO É MANDAMENTO PARA OS DISCÍPULOS DE JESUS: UMA LEITURA BÍBLICA E APOSTÓLICA


Por Josimar Salum


A doutrina do dízimo é uma das mais difundidas e mal interpretadas no meio cristão. Muitos a ensinam como mandamento perpétuo, aplicável a todos os crentes, e impõem sua prática como critério de fidelidade espiritual. No entanto, uma leitura honesta das Escrituras mostra que o dízimo, segundo a Torá, era parte de um sistema cerimonial específico de Israel, e que não foi ordenado por Jesus nem pelos apóstolos aos Seus discípulos.


À luz da Bíblia o dízimo não é uma obrigação para a Igreja e o modelo neotestamentário de sustento do ministério é baseado na generosidade voluntária e no discernimento espiritual, não em porcentagens fixas impostas por tradição.


O Sistema de Dízimos na Torá: Muito Além de 10%


O sistema de dízimos na Torá era detalhado e multiforme, envolvendo três tipos distintos:


1. O Dízimo dos Levitas (Números 18:21–24)


Entregue anualmente como 10% da produção agrícola e do rebanho, era destinado aos levitas, que não tinham herança territorial e serviam no tabernáculo. Era dado em forma de alimento, e os próprios levitas tiravam um “dízimo do dízimo” para os sacerdotes.


2. O Dízimo das Festas (Deuteronômio 14:22–27)


Também anual, este dízimo era consumido pelo próprio ofertante e sua família nas festas em Jerusalém. Caso fosse necessário, podia ser convertido em dinheiro para compra de alimentos festivos.


3. O Dízimo dos Pobres (Deuteronômio 14:28–29)


A cada três anos, um terceiro dízimo era separado para os pobres, os levitas, os órfãos, as viúvas e os estrangeiros, sendo armazenado localmente e distribuído entre os necessitados.


Assim era que o sistema totalizava aproximadamente 23% ao ano, e não 10%. Além disso, a Torá vincula os dízimos à terra prometida:


“Quando entrares na terra que o Senhor teu Deus te dá…” (Deuteronômio 26:1)


O dízimo era restrito à terra de Israel, ao templo, ao sacerdócio levítico e ao sistema tribal.


Não há mandamento de dízimo para gentios, nem fora de Israel, nem sobre dinheiro ou salários.


Jesus e os Apóstolos Nunca Ordenaram o Dízimo


Jesus e os Fariseus (Mateus 23:23)


Jesus mencionou o dízimo ao repreender os fariseus, que dizimavam temperos mas negligenciavam a justiça, a misericórdia e a fé. Falava com judeus sob a Lei, antes da cruz, não com discípulos da Nova Aliança.


Os Apóstolos e a Igreja


Em todo o Novo Testamento, não há sequer uma ordenança apostólica exigindo o dízimodos crentes. Ao contrário, Paulo ensina:


“Cada um contribua segundo propôs no coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama a quem dá com alegria.” (2 Coríntios 9:7)


A Igreja primitiva era sustentada por contribuições livres, generosas e conscientes — não por imposições legalistas.


Abraão e Melquisedeque: Um Ato Único, Não uma Ordem Eterna


Em Gênesis 14:18–20, Abraão deu dízimos a Melquisedeque dos despojos de guerra, em um ato voluntário e único, não repetido. Hebreus 7 menciona esse episódio para demonstrar a superioridade do sacerdócio de Cristo sobre o levítico, e não para ordenar dízimos aos crentes.


“Porque, mudando-se o sacerdócio, necessariamente se faz também mudança da lei.” (Hebreus 7:12)


Ou seja: com o fim do sacerdócio levítico, o sistema de dízimos também foi superado.


O Evangelho do Reino: Tudo é do Senhor


Jesus não chamou Seus discípulos para entregarem 10%. Ele os chamou para entregarem tudo.


“Assim, pois, todo aquele dentre vós que não renuncia a tudo quanto tem, não pode ser meu discípulo.” (Lucas 14:33)


“Vendei os vossos bens e dai esmolas…” (Lucas 12:33)

“De graça recebestes, de graça dai.” (Mateus 10:8)


A Nova Aliança não opera com porcentagens. Ela opera por rendição, generosidade, fé e obediência ao Espírito Santo


Sustento dos que Servem no Ministério


O sustento dos que se dedicam totalmente à Palavra é bíblico e justo, mas não baseado em dízimos. Jesus ensinou:


“Digno é o trabalhador do seu salário.” (Lucas 10:7)


Paulo confirma:


“Assim ordenou também o Senhor aos que anunciam o evangelho: que vivam do evangelho.” (1 Coríntios 9:14)


“Aquele que está sendo instruído na palavra reparta de todos os seus bens com aquele que o instrui.” (Gálatas 6:6)


O sustento é legítimo, mas deve vir da fé, da maturidade e do reconhecimento voluntário — não da imposição.


O Erro do Sistema Religioso Atual


Muitas igrejas modernas:


Reinstituem o dízimo como obrigação legal;


Impõem regras que o Novo Testamento nunca estabeleceu;


Substituem a fé e a comunhão por estruturas de arrecadação.


Esse sistema:


Não reflete o ensino de Jesus,


Sufoca a generosidade,


E perpetua uma distorção da graça.


O Modelo Bíblico da Nova Aliança


Entrega total, não porcentagem fixa (Atos 4:32–35)


Contribuição voluntária, conforme o coração (2 Coríntios 9:6–8)


Sustento justo dos que servem com dedicação integral (1 Coríntios 9:14)


Distribuição segundo as necessidades reais (Atos 2:44–45)


O dízimo foi parte da Lei dada a Israel, e jamais foi exigido dos discípulos de Jesus. Jesus não ordenou o dízimo. Os apóstolos não impuseram o dízimo. A Nova Aliança é baseada em generosidade, entrega total e obediência voluntária à direção do Espírito.


Diferente do que muitos pregadores modernos afirmam, “semear” em 1 Coríntios 9 não tem qualquer relação com rituais de culto, campanhas de altar ou promessas de prosperidade em troca de ofertas. O uso apostólico desse termo refere-se a uma realidade muito mais prática, espiritual e ética: o sustento daqueles que ministram a Palavra e a assistência direta aos necessitados.


“Se nós vos semeamos as coisas espirituais, será muito recolhermos de vós as coisas materiais?” (1 Coríntios 9:11)


Aqui, Paulo defende o direito legítimo de viver do evangelho — não como um peso ou imposição, mas como fruto de reconhecimento e maturidade espiritual da comunidade.


Esse entendimento é confirmado em 2 Coríntios 9, onde Paulo exorta os crentes a contribuírem generosamente para o sustento dos pobres em Jerusalém. Em nenhum momento essa “semeadura” é apresentada como um ato litúrgico ou mágico, mas como um gesto concreto de amor, justiça e comunhão:


“Esta ministração não só supre a necessidade dos santos, mas também redunda em muitas ações de graças a Deus.” (2 Coríntios 9:12)


Portanto, semear não é dar dinheiro em cultos esperando retorno multiplicado.


É ministrar com generosidade, sustentar os que servem no Reino e socorrer os irmãos em necessidade.


Na linguagem bíblica, semear é repartir — e colher é ver a justiça de Deus se manifestar através do amor prático entre os santos. Não há barganha espiritual, apenas obediência ao Espírito e fidelidade à verdade.


Que a Igreja volte ao ensino puro das Escrituras, e que os discípulos de Jesus aprendam a dar com discernimento, liberdade e propósito — não por campanhas, medo ou manipulação.


Quando a Igreja impõe o dízimo, ela não está sendo fiel às Escrituras — está reconstruindo um sistema da Lei que foi abolido em Cristo.


É tempo de romper com as tradições que anulam a verdade. É tempo de restaurar o ensino puro da Palavra e de formar discípulos que vivem com fé, liberdade e generosidade.


#ASONE

Nenhum comentário: