DÍZIMO NÃO É MANDAMENTO PARA OS DISCÍPULOS DE JESUS: UMA LEITURA BÍBLICA E APOSTÓLICA
Por Josimar Salum
A doutrina do dízimo é uma das mais difundidas e mal interpretadas no meio cristão. Muitos a ensinam como mandamento perpétuo, aplicável a todos os crentes, e impõem sua prática como critério de fidelidade espiritual. No entanto, uma leitura honesta das Escrituras mostra que o dízimo, segundo a Torá, era parte de um sistema cerimonial específico de Israel, e que não foi ordenado por Jesus nem pelos apóstolos aos Seus discípulos.
À luz da Bíblia o dízimo não é uma obrigação para a Igreja e o modelo neotestamentário de sustento do ministério é baseado na generosidade voluntária e no discernimento espiritual, não em porcentagens fixas impostas por tradição.
O Sistema de Dízimos na Torá: Muito Além de 10%
O sistema de dízimos na Torá era detalhado e multiforme, envolvendo três tipos distintos:
1. O Dízimo dos Levitas (Números 18:21–24)
Entregue anualmente como 10% da produção agrícola e do rebanho, era destinado aos levitas, que não tinham herança territorial e serviam no tabernáculo. Era dado em forma de alimento, e os próprios levitas tiravam um “dízimo do dízimo” para os sacerdotes.
2. O Dízimo das Festas (Deuteronômio 14:22–27)
Também anual, este dízimo era consumido pelo próprio ofertante e sua família nas festas em Jerusalém. Caso fosse necessário, podia ser convertido em dinheiro para compra de alimentos festivos.
3. O Dízimo dos Pobres (Deuteronômio 14:28–29)
A cada três anos, um terceiro dízimo era separado para os pobres, os levitas, os órfãos, as viúvas e os estrangeiros, sendo armazenado localmente e distribuído entre os necessitados.
Assim era que o sistema totalizava aproximadamente 23% ao ano, e não 10%. Além disso, a Torá vincula os dízimos à terra prometida:
“Quando entrares na terra que o Senhor teu Deus te dá…” (Deuteronômio 26:1)
O dízimo era restrito à terra de Israel, ao templo, ao sacerdócio levítico e ao sistema tribal.
Não há mandamento de dízimo para gentios, nem fora de Israel, nem sobre dinheiro ou salários.
Jesus e os Apóstolos Nunca Ordenaram o Dízimo
Jesus e os Fariseus (Mateus 23:23)
Jesus mencionou o dízimo ao repreender os fariseus, que dizimavam temperos mas negligenciavam a justiça, a misericórdia e a fé. Falava com judeus sob a Lei, antes da cruz, não com discípulos da Nova Aliança.
Os Apóstolos e a Igreja
Em todo o Novo Testamento, não há sequer uma ordenança apostólica exigindo o dízimodos crentes. Ao contrário, Paulo ensina:
“Cada um contribua segundo propôs no coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama a quem dá com alegria.” (2 Coríntios 9:7)
A Igreja primitiva era sustentada por contribuições livres, generosas e conscientes — não por imposições legalistas.
Abraão e Melquisedeque: Um Ato Único, Não uma Ordem Eterna
Em Gênesis 14:18–20, Abraão deu dízimos a Melquisedeque dos despojos de guerra, em um ato voluntário e único, não repetido. Hebreus 7 menciona esse episódio para demonstrar a superioridade do sacerdócio de Cristo sobre o levítico, e não para ordenar dízimos aos crentes.
“Porque, mudando-se o sacerdócio, necessariamente se faz também mudança da lei.” (Hebreus 7:12)
Ou seja: com o fim do sacerdócio levítico, o sistema de dízimos também foi superado.
O Evangelho do Reino: Tudo é do Senhor
Jesus não chamou Seus discípulos para entregarem 10%. Ele os chamou para entregarem tudo.
“Assim, pois, todo aquele dentre vós que não renuncia a tudo quanto tem, não pode ser meu discípulo.” (Lucas 14:33)
“Vendei os vossos bens e dai esmolas…” (Lucas 12:33)
“De graça recebestes, de graça dai.” (Mateus 10:8)
A Nova Aliança não opera com porcentagens. Ela opera por rendição, generosidade, fé e obediência ao Espírito Santo
Sustento dos que Servem no Ministério
O sustento dos que se dedicam totalmente à Palavra é bíblico e justo, mas não baseado em dízimos. Jesus ensinou:
“Digno é o trabalhador do seu salário.” (Lucas 10:7)
Paulo confirma:
“Assim ordenou também o Senhor aos que anunciam o evangelho: que vivam do evangelho.” (1 Coríntios 9:14)
“Aquele que está sendo instruído na palavra reparta de todos os seus bens com aquele que o instrui.” (Gálatas 6:6)
O sustento é legítimo, mas deve vir da fé, da maturidade e do reconhecimento voluntário — não da imposição.
O Erro do Sistema Religioso Atual
Muitas igrejas modernas:
• Reinstituem o dízimo como obrigação legal;
• Impõem regras que o Novo Testamento nunca estabeleceu;
• Substituem a fé e a comunhão por estruturas de arrecadação.
Esse sistema:
• Não reflete o ensino de Jesus,
• Sufoca a generosidade,
• E perpetua uma distorção da graça.
O Modelo Bíblico da Nova Aliança
• Entrega total, não porcentagem fixa (Atos 4:32–35)
• Contribuição voluntária, conforme o coração (2 Coríntios 9:6–8)
• Sustento justo dos que servem com dedicação integral (1 Coríntios 9:14)
• Distribuição segundo as necessidades reais (Atos 2:44–45)
O dízimo foi parte da Lei dada a Israel, e jamais foi exigido dos discípulos de Jesus. Jesus não ordenou o dízimo. Os apóstolos não impuseram o dízimo. A Nova Aliança é baseada em generosidade, entrega total e obediência voluntária à direção do Espírito.
Diferente do que muitos pregadores modernos afirmam, “semear” em 1 Coríntios 9 não tem qualquer relação com rituais de culto, campanhas de altar ou promessas de prosperidade em troca de ofertas. O uso apostólico desse termo refere-se a uma realidade muito mais prática, espiritual e ética: o sustento daqueles que ministram a Palavra e a assistência direta aos necessitados.
“Se nós vos semeamos as coisas espirituais, será muito recolhermos de vós as coisas materiais?” (1 Coríntios 9:11)
Aqui, Paulo defende o direito legítimo de viver do evangelho — não como um peso ou imposição, mas como fruto de reconhecimento e maturidade espiritual da comunidade.
Esse entendimento é confirmado em 2 Coríntios 9, onde Paulo exorta os crentes a contribuírem generosamente para o sustento dos pobres em Jerusalém. Em nenhum momento essa “semeadura” é apresentada como um ato litúrgico ou mágico, mas como um gesto concreto de amor, justiça e comunhão:
“Esta ministração não só supre a necessidade dos santos, mas também redunda em muitas ações de graças a Deus.” (2 Coríntios 9:12)
Portanto, semear não é dar dinheiro em cultos esperando retorno multiplicado.
É ministrar com generosidade, sustentar os que servem no Reino e socorrer os irmãos em necessidade.
Na linguagem bíblica, semear é repartir — e colher é ver a justiça de Deus se manifestar através do amor prático entre os santos. Não há barganha espiritual, apenas obediência ao Espírito e fidelidade à verdade.
Que a Igreja volte ao ensino puro das Escrituras, e que os discípulos de Jesus aprendam a dar com discernimento, liberdade e propósito — não por campanhas, medo ou manipulação.
Quando a Igreja impõe o dízimo, ela não está sendo fiel às Escrituras — está reconstruindo um sistema da Lei que foi abolido em Cristo.
É tempo de romper com as tradições que anulam a verdade. É tempo de restaurar o ensino puro da Palavra e de formar discípulos que vivem com fé, liberdade e generosidade.
#ASONE
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