28 setembro 2011

A Crônica do Tempo

A Crônica do Tempo
Josimar Salum

A sensação de ineficiência, a incompetência e a total incapacidade que também aborrece e perturba, provoca em mim, conscientemente uma dependência total de Deus para me levar ao descanso e sossego que minha alma anela.

Os eventos, fatores, elementos externos que são história e deixaram seus rastros não podem ser modificados. O que é comum e normal. Mas na medida que não reclamem, nenhuma consequência que afete ainda, podem e serão esquecidos.

Estou em busca da face de Deus! Não é de hoje. Desde criança esta é a jornada, a razão de minha vida.

No emaranhado de relacionamentos, alguns complexos, dissociáveis, outros interligados em essência e dependentes, sou apenas um, neste movimento constante e ininterrupto da vida na existência que aceita pausas pela ausência de acontecimentos, mas que continua acontecendo na grande engenhoca da vida.

Somos escravos do tempo e do espaço. Ao pensar num relance que tudo vai passar, expressão constante de sabedoria de minha mãe, sem poder julgar que seja ou não o conforto materno oferecido, ou a inteleção sólida e profunda da Verdade penetrante, sem oposição, sem nenhum obstáculo, livremente avançando, que tudo mesmo vai passar.

Que estes sentimentos de debilidade têm uma influência de vergonha no pensamento e raciocínio, sombreados por esta massa de tristeza incolor, como uma voz acusadora mesmo disfarçada, de que esta experiência é coisa para fraco, débil e menino.

Que a inconsciência suplante sorrateiramente a consciência, roubando a lucidez, a clareza e a intencionalidade dos pensamentos numa propulsão de violência interna, mesmo silenciosa, compulsiva e sem piedade, como uma programação prévia, imperceptível, inevitável e intratável que tivesse que acontecer, deflagrada por uma força invisível, mas espiritualmente palpável.

É neste trajeto, no meio desta passagem que se extende e se excede não só de objetos, plantas, seres, prédios, gente, encharcada de subjetividade, de abundância de neuro transmissores no tráfego gigantesco do cérebro – enorme, de incontáveis acontecimentos que gerem-se ao mesmo tempo, em velocidades imensuráveis – é nesta pausa deste tempo que me torno simples, pequeno e me rendo.

E vivo, tenho que ir vivendo, as paisagens de fora são as mesmas de dentro, com pequenas diferenciações, na medida que o carro move-se, deixando para trás o que é concreto e o que se mexe, mudando as paisagens para quem vem atrás, como aquele que passou pelo tempo.

Passamos pelas paisagens e não percebemos, por incapacidade total, por não sermos oniscientes nem onipresentes. Percebemos somente o fracionado, o que a mente incapaz pode assimilar dos pequenos pedaços, que o tempo deixou no atraso da percepção atrasada do mesmo tempo que não é tempo, é ocaso.

Somos seres de frações e fragmentos, não conhecemos o inteiro, somos dois, três, não somos, é a memória que não consegue assimilar no tempo os acontecimentos. Sozinhos não somos um, não somos completos, nem enxergamos por inteiro.

O espaço e o tempo são nossos limites, porque nos movimentamos. A perceptividade humana é sempre fracionada. E esta limitação infinita dimensiona pobremente nosso viver. Movendo mais dependentes nos tornamos. Até descobrir que existimos e nos movemos em Deus.

Por dentro, por fora, pensamentos e movimentos. E a maraviha maior é que sou humano e preciso de Deus.

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