28 janeiro 2013

De Repente em Santa Maria

Josimar Salum

De repente, viver é cheio de imprevistos.
Na calada da noite quando a cidade dorme
Em altas horas onde jovens dançam
Em um momento, diversão e euforia
Cada um escrevendo sua história
Com flertes, paixão e fantasia.


De repente, a música faz bailar os corpos queimados de sol
E suas silhuetas eróticas são apenas sombras nas paredes
Produzidas pela mesma dança
De quem não veio só prá ficar com alguém,
Com quem não se sabe, vai sair
Para avançar na vida e construírem juntos
O que começou numa noite, num clube,
Antes do amanhecer.

De repente, a dose de um espírito ardente
Não satisfaz mais, é preciso outra, e outra.
É que não basta excitar-se por um momento,
É preciso mergulhar, é preciso curtir a noite,
Nas águas ardentes para quem não pôde mais dizer não
O tempo passa tão depressa e ninguém percebe.


De repente, o clima do desconhecido vai se desenrolando
Como uma névoa que passa feito passes de mágica
O espetáculo da vida feito palco, que artifício!
Incendiado com fogo como quem não quer nada
Jovens nos cantos se beijando e se entretendo
Com a vida, uma vida que não mais avança.

De repente, alguém em desespero grita "fogo"
E já não há mais conversa nem dança
Como um cardume denso de sardinhas
Em uma coreografia que ninguém ensaiou
Na vida de imprevistos ninguém espera pelo pior
Há um tubarão solto e já está engolindo alguns.


De repente, o pai ou a mãe acorda no seu quarto escuro
Envolto numa proteção de silêncio
Apenas se ouve os galos cantando
como verdadeiros arautos da madrugada
Aquele aperto no peito, sem motivo aparente,
Lembra do filho ou da filha,
Na grande choupana do divertimento
E um sentimento melancólico arde no peito
Desejando ver o filho ou a filha deitado no quarto ao lado

De repente, fora da caverna há por cima um funil de fogo
Dentro o filho ou a filha quer correr e não consegue
Vai empurrando os que estão à frente, ninguém mexe
Por trás vem uma nuvem escura e um cheiro sufocantes
Cada moço, cada moça, num corredor improvisado da morte
Um a um vão caindo, chorando, sofrendo, partindo.


De repente, amanheceu para muitos em toda a terra.
Numa cidade gaúcha anoitecia de novo
Tantos jovens belos e moças belíssimas
Numa noite como as outras
Resolveram dançar na terra. E de repente...

De repente, a moça de olhos verdes não vem almoçar mais
O rapaz de corpo atlético não malha mais
O jovem negro, calouro, não terá sua primeira aula
A menina de alegria contagiante não volta prá casa
O rapaz, noivo, não subirá ao altar.
Tantas esperanças, tantos romances
Um a um, um por um, deixou de viver sua história.


Ah! Deus dos céus, onde estavas?
O Senhor é o socorro bem presente na angústia!
Quantos nem notaram a Tua presença,
No pensamento que recordava o apelo de Teu Evangelho.

Ah! Deus dos céus, onde estavas?
"No mesmo lugar, de sempre, braços estendidos
Exalando Graça sem medida e abundante
Mesmo onde, de repente, a vida perdeu o sentido."

Ah! Deus dos céus, onde estavas?
"Na terra, meu filho, no vale da sombra da morte.
Com Minha mão em oferta para quem quisesse vê-la e tomá-la
Chamando corações penitentes à salvação."

Ah! Deus dos céus, onde estavas?
"Estou aqui, meu filho, em Santa Maria
Para consolar os tristes e curar os feridos
Para ser pai, mãe, irmão e amigo
Para confortar, mais uma vez,
Cada um com o Meu Espirito."




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