O ANTICRISTO SEGUNDO AS ESCRITURAS: UMA REVISÃO BÍBLICA E APOSTÓLICA
Josimar Salum
15/6/2025
Ao longo dos séculos, a figura do “anticristo” foi cercada por especulações, interpretações populares e doutrinas escatológicas que moldaram o imaginário de milhões de cristãos. Entretanto, ao examinarmos as Escrituras com atenção e reverência ao texto sagrado, descobrimos que muitas dessas ideias não têm fundamento bíblico. Este artigo tem como objetivo analisar o ensino apostólico sobre o chamado “anticristo” e desconstruir mitos construídos por tradições posteriores.
1. A expressão “anticristo” não aparece nos escritos de Paulo nem no Apocalipse
Apesar da enorme influência que a ideia de um anticristo único e futuro exerce sobre a escatologia moderna — especialmente no sistema dispensacionalista — é notável que:
• O apóstolo Paulo, mesmo tratando profundamente de temas escatológicos como a vinda de Cristo, o juízo final e o homem do pecado, nunca utiliza o termo “anticristo”.
• O livro do Apocalipse, que apresenta figuras como a besta, o falso profeta e o dragão, também nunca usa esse termo.
Esse fato é teologicamente significativo: o termo “anticristo” só aparece nas epístolas de João, e mesmo assim, jamais como referência a um indivíduo único e futuro.
2. O termo “anticristo” aparece somente nas cartas de João — e sempre no plural ou como espírito
O termo “anticristo(s)” aparece apenas cinco vezes no Novo Testamento, todas nas cartas de João:
“Filhinhos, esta é a última hora; e, como ouvistes que vem o anticristo, também agora muitos anticristos têm surgido; por isso conhecemos que é a última hora.” (1 João 2:18)
O apóstolo João afirma que muitos anticristos já haviam surgido em seu tempo, e associa essa realidade à expressão “última hora”.
Essa “última hora” não se refere aos nossos dias, no século XXI, mas já estava em curso desde o primeiro século, quando João escreveu suas cartas. Segundo ele, a presença dos anticristos naquela época era a evidência de que o tempo final já havia começado.
“Quem é o mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? Este é o anticristo, o que nega o Pai e o Filho.” 1 João 2:22
O anticristo é definido como aquele que nega a identidade do Filho de Deus — um desvio doutrinário, não uma figura política.
“E todo espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus; mas este é o espírito do anticristo, do qual já ouvistes que há de vir, e agora já está no mundo.” 1 João 4:3
João identifica o anticristo como um espírito de engano que já operava em seu tempo.
“Porque já muitos enganadores saíram pelo mundo, os quais não confessam que Jesus Cristo veio em carne. Este tal é o enganador e o anticristo.” 2 João 1:7
O anticristo é equiparado a enganadores doutrinários, negando a encarnação de Cristo.
Resumo da teologia de João:
• O “anticristo” não é uma pessoa única e futura, mas:
• Um espírito já presente
• Muitos indivíduos que negam a Cristo
• Um sistema doutrinário que se opõe à verdade
• O foco é a negação de Jesus como o Filho de Deus — não a ascensão de um governante mundial.
3. Paulo fala do “homem do pecado” — mas não o chama de anticristo
A passagem mais comumente relacionada ao tema do anticristo por teologias modernas é:
“…se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição… o qual se opõe e se levanta contra tudo o que se chama Deus…” 2 Tessalonicenses 2:3–4
Esse texto é interpretado por muitos como uma referência ao “anticristo”.
No entanto:
• Paulo nunca usa esse termo.
• Ele descreve um sistema de oposição religiosa.
• Ele afirma que esse sistema já estava em operação em sua época:
“Porque já o mistério da injustiça opera…” (2 Tessalonicenses 2:7)
Portanto, não se trata de um “supervilão” escatológico, mas de uma manifestação visível de um engano já presente no mundo desde os tempos apostólicos.
4. Apocalipse: as bestas não são chamadas de “anticristo”
No livro do Apocalipse, surgem figuras como:
• A besta do mar (Apocalipse 13:1)
• A besta da terra (Apocalipse 13:11)
• O dragão (Apocalipse 12)
• O falso profeta (Apocalipse 16:13)
Embora muitos associem essas figuras à ideia popular do “anticristo”, o texto nunca usa esse termo para nenhuma delas. O livro é repleto de linguagem simbólica, mas o “anticristo” não é mencionado nem uma vez.
5. O “anticristo” moderno é fruto de doutrinas posteriores
A imagem popular do anticristo como:
• Um governante mundial único
• Que faz acordo com Israel
• Que reina por sete anos
• Que reconstrói o templo
• Que persegue a Igreja
…é uma montagem teológica construída nos séculos XIX e XX, principalmente por:
• Interpretações dispensacionalistas (John Darby, C. I. Scofield)
• Leitura literalista de Daniel e Apocalipse
• Uma abordagem futurista desconectada da tradição apostólica
Essas ideias não têm base direta nas Escrituras, mas refletem suposições posteriores, reforçadas por filmes, livros e cultura popular.
6. O verdadeiro Rei é Cristo — e Ele já reina
A Bíblia é clara ao afirmar que Cristo reina agora:
“Toda autoridade me foi dada no céu e na terra.” (Mateus 28:18)
“É necessário que Ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo dos seus pés.” (1 Coríntios 15:25)
• O Reino de Deus não é apenas futuro — já está em operação.
• A vitória sobre Satanás e seus agentes já começou na cruz (Colossenses 2:15).
• A Igreja é chamada a ocupar, manifestar e expandir o Reino, não a temer um anticristo inexistente.
CONCLUSÃO: O FOCO É CRISTO — NÃO UM ANTICRISTO FUTURO
O apóstolo Paulo, em nenhum de seus escritos, reconhece ou menciona um “anticristo” como figura profética.
João, o único a usar o termo, o aplica a muitos enganadores já presentes no primeiro século.
O livro do Apocalipse nunca usa essa palavra.
Logo, a figura de um anticristo único e apocalíptico não é uma doutrina bíblica, mas uma construção teológica moderna.
A Bíblia nos chama a manter os olhos no Cristo que reina — não num “anticristo” que nunca foi identificado pelos apóstolos.
“O Reino de Deus está entre vós.” (Lucas 17:21)
“Ele nos libertou do poder das trevas e nos transportou para o Reino do seu Filho amado.” (Colossenses 1:13)
A missão da Igreja é manifestar esse Reino com verdade, poder e autoridade, enquanto aguardamos a consumação gloriosa da vinda de Jesus — não com medo, mas com fé ativa.
#ASONE
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